domingo, 13 de janeiro de 2013

Em Lisboa


Escrito em 07/01/2013 às 11:07

Bom dia. Encontro-me bem e muitíssimo viva, se não ligeiramente enjoada. Aterrissei mais cedo em Lisboa, onde após um breve ataque de pânico (durou 5 segundos), descobri qual portão seguir e que fila entrar para pegar a conexão com meu voo para Londres.

A viagem fluiu sem maiores problemas, com apenas um surto de turbulência (sim, foi um surto) no meio do Atlântico, que fez a pequena Lara (minha amiguinha) gritar escandalosamente no banco de trás - mas não é como se ela não já estivesse fazendo isso desde Fortaleza. Guria adorável, ela era.

Por esse e outros motivos, a viagem pode ter sido classificada como razoável, mas não sou eu que vou reclamar agora. A lei de Murphy se fez presente logo nos primeiros instantes, quando que com alegria nos olhos percebi que naquela fileira de 4 cadeiras onde meu assento estava marcado não havia ninguém. Quatro cadeiras só pra mim, dá pra imaginar?

É claro que não durou. Uma comissária muito simpática chegou minutos depois, perguntando se eu gostaria de ceder meu lugar para uma família que estava separada. Logicamente, aceitei. 16A, ela me enviou. Fui me sentindo uma pessoa super legal.

Quando que para minha surpresa, vi que o assento 16B (o avião era 2, 4, 2) estava ocupado. Nada mais, nada menos que por um rapaz inglês carrancudo com pernas enormes e nenhum traço de alegria no rosto. Até parece que foi forçado pro Brasil. Awkwardly, ele cedeu o espaço na janela para mim. Okay, tudo bem, tudo bem, Ana Karla, se você quiser ir no banheiro, você pede gentilmente no meio da viagem.  Sua bexiga vai aguentar.

Nós não trocamos sequer um olhar durante o voo todo e eu neguei todas as refeições. Fiz bem, porque olhei pro bife no prato dele e ele estava verde. Pra melhorar, a Lara lá atrás a cada 3 minutos ou chorava ou gritava ou exclamava “A LUUUUUUUUUA, MÃE, olha a lua e as estrela”.

Não assisti nem um terço do que havia programado para assistir durante o voo, e no canal de entretenimento passava O Diário de um Banana, quando haviam anunciado As Vantagens de Ser Invisível. Qualquer analogia com a realidade é mera coincidência.

Dormi por 40 minutos, suspeito. De qualquer forma, quando cheguei, o comboio me levou para o aeroporto e foi lá que sofri meu pequeno (ou será miúdo, já que estou em Portugal) ataque de pânico. Não sabia se passava pela fila da imigração ou se seguia direto para a conexão. Eu disse meu destino e a moça respondeu “Sobe”. Subi. Dei de cara com o corredor mais longo e deserto da minha vida. Lá duvidei a existência do aeroporto, do fim do corredor e da minha própria existência.

Após exaustivos minutos de tensão e ansiedade, encontrei o detector de metais e nunca fiquei tão feliz na minha vida por ser revistada, porque lembrei que era isso que devia fazer mesmo.

No exato momento, estou realizando o sonho da minha vida. Vocês sabem, existem três tipos de sonho: o sonho impossível, aquele que você tem desde criança; o sonho alcançável, aquele que com trabalho duro e um pouco de sorte um dia você acaba conseguindo; e o sonho da sua vida, aquela coisa simples – mas não tão simples – que você sempre quis fazer, mas que por algum motivo, nunca pôde.

O sonho da minha vida era sentar num café, tirar meu casaco e enrolar meu cachecol, pedir um café, tirar meu computador e começar a escrever. As pessoas passariam me olhando com solenidade, pensando que sou escritora e estou escrevendo um romance baseado nas suas rotinas, quando na verdade só estaria aqui fazendo skdaw~dldhgdsv~dfhb e parecendo inteligente com meus dedos ligeiros. Neste exato segundo, existem 5 pessoas fazendo isso, e eu estou me controlando muito pra não gargalhar.

Realizei o sonho da minha vida. E daqui a poucas horas, realizarei o outro sonho da minha vida. Porque a vida não tem uma faceta só, então podemos ter muitos sonhos simples, que eu não sei descrever melhor do que... sabe aquelas coisas no The Sims que você faz e elas te dão pontos de vida pra comprar seu Desejo Duradouro? Pois é, mais ou menos assim.

Tem muita gente por aqui, mesmo assim o lugar está tranquilo. Dez minutos e todos estereótipos relativos a nacionalidades já foram quebrados,  o que é maravilhoso. Já avistei um garotinho inglês falando altíssimo e correndo pela escada e um italiano emburrado. Já encontrei gente de 15 países diferentes, ou por aí, todos eles acompanhadas por filhos ou com pressa ou já bem mais velhos. E eu. Eu aqui sozinha, tentando me encaixar nessa bagunça toda. As únicas palavras que consegui proferir em inglês até o momento foram “You’re welcome” para moça que eu segurei a porta do banheiro. As únicas palavras que proferi em português até o momento foram para caixas ou funcionários do aeroporto.

No momento, estou comendo um hambúrguer com algo parecido com ovo e arroz, e também outra coisa que lembra muito batata, mas está tão ruim que eu não consigo ter certeza.

Apesar de tudo, eu estou bem. Lisboa está fria e nublada.
E como dizem aqui: até loguinho.

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